A avareza

Sincronicidade vida vadia…
Distracção do passarito;
Inocência do cântico;
E avareza do velho;
Um distraído pelas sementes das árvores;
Caídas com o sopro do vento;
Outro levado pela astucia;
Distraído diante da cidade;
Empolgado na natureza…
Fatalidade do passarito cantante;
Vitória do velho…
Apanhou-o e levou-o;
Até á casa de rede;
Gaiola débil…
Os dias passavam;
Despidos e mudos;
O velho despercebido…
E avareza do pássaro;
Numa distracção…
Deixou a porta a aberta!
Não sentiu diferença
Afinal era surdo.

A Inocência Não Se Molha

Inocência á parte;
Combatida pelo desgaste...
Quedas mal gastas;
Em oportunidades “chave”;
Mesmo de porta aberta;
Bate á porta…
O ritual manda a lei;
Os dela, encobertos;
Passam a correr...
Inocência activa;
Desvia-a e liberta a passagem;
Foi inverno naquela sala;
Todos os olhos;
Foram munidos de chuva...
Inocência cautelosa;
Num ano de verão;
Trouxe guarda-chuva;
E não se molhou…
Inocência perspicaz;
Fechou o guarda-chuva;
Meteu as mãos ao bolso;
Retirou a chave;
Abriu a porta, e entrou;
Quase que escorregou na possa;
Mas... Era verão!

Atraso Do Calculista

Repetir o que é certo…
Desgasta a oportunidade;
Esgota o conforto;
Enfraquece a euforia;
Repetir o certo…
Anula o exacto;
Desfaz o orgulho;
E atrasa o começo;
A palma da mão fechada;
Como que se aprisiona-se a vontade;
Os olhos abertos;
Como que se nada lhe escapa-se;
Peito espetado;
Como que cheio de uma vida inteira;
Suor surgia-lhe no pescoço;
Como que chuva que caí;
E uma fonte de palavras presas…
Numa respiração atrasada;
Repetir o certo…
Abranda a novidade;
E atrasa o calculista.

Gota Transparente

Transparência de uma vida…
Podiam pintar mares;
Cheios de rochas;
Com a força de um olhar;
Se desfaziam em areia…
E um rio calmo!
Gota de um ser…
Que se encontra por cair;
Quem é ainda anda a voar;
Gota oca…
Que viaja ao ritmo;
De um bailado;
Leve e calmo!
Gota transparente…
Transporta vida!
O ruido de um sorriso;
Escorregou por um arco-íris
E desfez-se a gota;
O ser acordou…
Espreguiçou-se em relva seca;
Caminhou até às areias;
De um mar calmo;
Com frio…
Cobriu-se de vergonha;
E deixou-se ficar…
Até a transparência;
De um olhar chegar!

Não Se Apercebeu

Fica feliz…
Com a minha simpatia;
Sente-se um jardim…
Só porque me cheira a flores;
É o sol, da vida de alguém…
Só porque faz-me brilho no olhar;
É o risco certo…
Onde certezas, não há;
É a loucura mais engraçada…
No mundo dos sisudos;
É a estátua, mais bonita…
Num concurso de dança;
Cada passo que dá…
É a queda que não deu;
É feliz…
E ainda não se apercebeu!

Saudade Que Acordou

Corri sem pés;
A um rio sem margem;
A cara molhada, sem chuva:
O tempo prometeu passar;
Já olhei…
Mas os segundos ficaram retidos;
Presos num olhar desiludido;
Um dia diferente…
Dos já diferentes;
Está ali…
O coração não toca mais…
Implorei…
Mas não abriu os olhos;
De cara molhada, sem chuva;
Dizem o tempo cura tudo;
Mas não leva a saudade;
Essa é a única que não morre;
Mesmo não sabendo;
Que era viva em mim.

A Partida Da Paixão E A Chegada Do Amor

Na beira de um beijo firme;
Sente-se uma ausência;
Da ânsia desse beijo;
Ele não é mais pressa;
Ele deixou de ser o desejo final;
É o cumprimento para a vida;
Ele vem com toque…
Mas não chega com desejo;
Ele surge com ética;
Não chega com vontade…
Beijo…!
Algo substituiu….
Cada toque…
Cada vontade…
Cada fechar de olho…
Beijo com saudade de um minuto;
Beijo de querer mais;
Cada sabor…
Cada bater de coração…
Cada toque mais forte…
Essa era a presença secreta;
De um beijo firme…
Agora na beira de um beijo firme;
Há amor…
Há cuidado…
Há telepatia…
Há segurança…
Mas quem beija;
Sente a ausência da paixão…
A ternura e a calma, do amor chega;
O entusiasmo e a vontade, da paixão;
Estão a partir…
Na beira de um beijo firme;
Há presença de amor…
Há ausência de paixão…
Não há pressa de um beijo;
Mas há um beijo, para cada dia.

A Sorte De Um Rascunho

Rascunharam-me o caminho;
E mandaram-me vir…
Vim perdido, de um achado;
Uma vida com vícios;
Um amor que acabou;
Até me acharam graça…
Mas não ficaram comigo;
Por um acaso;
Um surto de memórias;
Que não me deixam sozinho;
Constroem quem acho que sou…
Continuo perdido…
Sem tópicos de volta;
Sou o rascunho, de uma vida;
Como planos que ficaram para depois;
Sem tempo, para passar a limpo;
Um dia julgaram-me fora;
Fiquei esquecido…
E velho demais...
Mas criança que chegue;
Até que…
Um outro coração de mãe;
Passou a limpo o meu caminho;
E hoje não sou o rascunho;
Nem o acaso…
Mas os planos de alguém;
Que hoje chamo de mãe!
Prometeu conquistar momentos bonitos;
Sem ter espaço para pensar em memórias;
Renovo-as uma a uma;
Sem saber…
Distribuiu beijinhos nas cicatrizes;
Só de as sentir…
Ofereceu abraços aos gritos;
Que não ouviu…
Soprou todas as lágrimas que caíram;
Que nem as viu…
Não tem os olhos, iguais a mim;
Mas tem os olhos que me guiam;
Não tem o nariz largo, como o meu;
Mas tem o faro perfeito;
E diz que cheiro a ela…
Não tem a boca, tão grande;
Mas tem as palavras adequadas;
Do jeito que sei ouvir…
Empenhou-se nos meus sorrisos;
E hoje chamo-lhe de mãe.

Não Chores

Não chores…
Aguenta firme;
Ninguém precisa de sentir;
Que esses olhos estão tristes…
Que o nó na garganta;
Insiste em crescer…
Que o pensamento;
Está repetitivo…
Que o corpo inquieto;
Está nervoso…
Que a voz está rouca;
Porque está magoada…
Não chores…
Segura-te!
Sê a mãe, de ti mesma;
Sê o melhor conforto, de um colo;
Sê paz de um calmante;
Mas não te ouças…
Não agora;
Coração magoado;
Não sabe o que diz…
Sente essa mágoa;
Ela é tua;
E transforma na magia;
De que tu consegues;
Suportar, digerir e entender…
Não chores!
Esses olhos não merecem;
Esse brilho hoje;
Sai da cama…
Não te enganes;
Sabes que não vais dormir…

Isto Se Te Pertencer

Quero dizer-te, que sonhei…
Mas sem sonhar;
Não acho ético;
Quero que percebas;
Como te sinto;
Mas sem te ver…
Não é possível!
Quero que te apresses;
Mas se não sou;
A pressa do teu caminho…
Não te imploro que atalhes!
Quero que me dês;
Algum “sinal”;
Mas só se de verdade, o tiveres;
Quero notar;
Que te lembras de mim;
Se dessas memorias;
Eu ainda fizer parte!
Quero que sejas feliz;
Mesmo que a minha felicidade;
Não possa ser;
Ver-te feliz todos os dias;
Quero dizer-te;
Que fico tão bem;
Quando te encontro…
Mesmo que seja só;
Em passos de pensamento.

Todos Se Foram Embora

Coração não suporta;

A distância irónica;

Torna-se arrogante;

Por se sentir tão só…

Uma festa no olhar;

Um carinho no rosto;

E um rasgo, nos lábios…

Quase que se ouve um riso;

Mas torna-se envergonhado…

Regressa á cara fechada…

Sem luz, numa vidraça;

Com ar, numa varanda fechada;

Paisagem sem janela;

Coração isolado, sem motivo…

Dentro dele...

A única razão;

É por não ver;

E quando acontece….

Não sabe sentir…!

Suporta...

Mas não transmite nada;

E deixam de aparecer.

Vestida Para O Medo

Um dia, vou vestir;
O meu vestido branco;
Ao medo, dos meus medos…
Tem uma beleza diferente;
Por ser de vidro;
O medo…
Faz-me correr;
Provoca-me vida;
Não me deixa parar;
E não me faz morrer...
Vou estender a minha mão;
E passear com ele…
Paisagem inaugurada!
Uma junção moderna!
Vestida de branco;
Para contrastar…
Coração pulsante;
Corpo elegante, mas retraído;
Imobiliza o olhar expectante;
Dias de vidro…
Há chances de não partir;
O desafio…
Manda o dado;
Fecha os olhos;
E joga-te!
Hoje é a minha estreia.

Sem Desejo

Perdi os dotes;
De uma vida…
Perdi os dias;
De um desejo…
Desespero!
Vida despejada;
A quem não tem nada…
São planetas gastos;
Em mares desertos;
E lá não vive ninguém…
Desejo de uma vida;
De quem não sabe ter…
São estradas sem alcatrão;
Construídas em pontes aéreas;
Num pensamento de ninguém…
Dotes de uma vida;
A quem nada, deve o que tem…
Em dias perdidos;
Sem encontrar um desejo.

Discurso Sem Começo

Escrita rouca;
Voz tremida;
A mão suada;
E os olhos secos;
Mantém-se firme;
O destino do discurso;
Percurso turbulento;
Ânsia da rapidez;
Expectante de provocar;
Menor indelicadeza…
Quando a voz, não escreve;
E a escrita não fala;
Ou se interpreta um olhar…
Ou tudo fica por esclarecer.

Reconheces-te?

Reconheces-te?
Grava uma mensagem tua;
E põe ao peito;
Manda um beijo, bem longe…
E corre… corre…!
Desejas esse beijo…
Esse carinho…
Ele é teu!
Dá-te o gesto mais bonito;
O teu sorriso!
É tão teu…!
Tu divertes-te a sorrir;
Fala! Ouve-te a falar;
Escuta! Escuta o que te queres dizer;
Tu sabes, ouvir-te!
Põe a mão contrária;
Em cada ombro;
E afeiçoa-te ao teu abraço;
És tu! O teu toque;
O teu jeito de agarrar;
Conhecias o teu abraço?
Chama! Chama por ti;
Diz o teu nome!
Tira a roupa;
E cheira-a!
Reconheces?
Apresento-te essa és tu;
A vida inteira!